segunda-feira, 2 de agosto de 2010

outra manifestação sobre a crítica

Sobre a crítica da peça infantil “Pelos Ares”

Esse fim-de-semana, eu levei meus três irmãos menores para assistir “Pelos Ares” no teatro Cacilda Becker a despeito da crítica que eu havia lido na sexta-feira no Guia da Folha. Quando cheguei ao teatro e encontrei meu pai com um dos pequenos na porta ele logo disse: “parece que essa peça não é muito boa”. Pronto, nós adultos já estávamos armados para considerar a peça “regular”, achá-la “sem poesia” e ver em todos os personagens “caricaturas” e “estereótipos”. Gozado, porque eu estou muito acostumada a levar meus irmãos ao teatro infantil e ele costuma ser bem ruim.

É... eu estava certa. “Pelos Ares” é um dos espetáculos mais bonitos que eu já vi. Ele rompe com os estereótipos, ao contrário do que diz a Sra crítica de vocês, ao colocar, por exemplo, uma atriz para fazer o papel do menino Thomas, ou um homem barbudo para assumir o papel da fada. Ali os atores brincam em vários papéis sem se importar com o já aposentado “physique du rôle”. Além disso, ele trata a criança com maturidade, questionando os valores morais da família, o que é raríssimo em qualquer tipo de arte infantil. O cenário enxuto, dá espaço para que as crianças imaginem o entorno – o que é um bom exercício para aqueles que o tempo todo vêem TV, ou mega produções; e o vôo de Thomas Máximo foi muitíssimo bem resolvido através de recurso audiovisual e da marionete que ele manipula. Outra coisa com a qual me surpreendi foi saber que o texto foi escrito por um dos atores da companhia, uma livre adaptação de um romance. Por fim, eu me emocionei como uma criança no final da peça quando Thomas diz - em outras palavras, claro... as minhas são toscas, mas a mensagem é mais ou menos essa – que a vida agora não é perfeita, mas está melhor.

Por tudo isso, eu acho que a Folha cometeu um erro por ter deixado passar uma crítica dessas e deveria mandar outra pessoa mais sensata e menos pudica para assistir o espetáculo. Esse grupo merece uma retratação. Eles fizeram um trabalho primoroso e só receberam uma crítica dessas, creio eu, por causa de conflitos morais ou ideológicos da pessoa que a escreveu.

Grata,

Renata Calmon

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